segunda-feira, abril 18, 2005

Carnívora

poesia canibal


Estranho é quando amantes decidem acariciar-se

Com lábios que se torcem, se avizinham, se provocam

Como ondas violentas que no oceano se entrechocam,

Enquanto sua volúpia repele o moral disfarce.


Não sei por que razão é bom o beijo, e, se soubesse,

Não me furtara à prática do ato que se consuma,

Enquanto o caos dirige a humanidade em meio à bruma

E o mundo, tão alheio a nós, se espreguiça e envelhece.


Os lábios se confrontam – indecente desafio,

E as línguas se debatem numa esgrima maliciosa;

Dentes mordiscam peles que se roçam em seu brio

– O afã de devorar é uma cadeia viciosa!


Sabes que, quando bebo tua alma completamente

E sufoco em teu corpo minha sanha inominada,

A boca que te morde sem escrúpulo pudente

Possui igual desejo de ser canibalizada?



 

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