Carnívora
poesia canibal
Estranho é quando amantes decidem acariciar-se
Com lábios que se torcem, se avizinham, se provocam
Como ondas violentas que no oceano se entrechocam,
Enquanto sua volúpia repele o moral disfarce.
Não sei por que razão é bom o beijo, e, se soubesse,
Não me furtara à prática do ato que se consuma,
Enquanto o caos dirige a humanidade em meio à bruma
E o mundo, tão alheio a nós, se espreguiça e envelhece.
Os lábios se confrontam – indecente desafio,
E as línguas se debatem numa esgrima maliciosa;
Dentes mordiscam peles que se roçam em seu brio
– O afã de devorar é uma cadeia viciosa!
Sabes que, quando bebo tua alma completamente
E sufoco em teu corpo minha sanha inominada,
A boca que te morde sem escrúpulo pudente
Possui igual desejo de ser canibalizada?