segunda-feira, maio 30, 2005

Caia na noite: Capítulo 5

Pessoas queridas,

O número de acessos de O Demo sentado em meu ombro, desde que foi criado, há menos de dois meses, me pegou desprevenida. Deixou-me surpresa, embasbacada e claro, feliz da vida. Vejo que a publicação semanal de Caia na noite teve um grande papel nisso e que vocês estão acompanhando com atenção a noveleta aborrecente.

Não encontro a eloqüência necessária para agradecer a vocês tão enfaticamente como queria e não creio que serviria preencher todo o espaço do dia de hoje com uma infinidade repetitiva de "muito obrigadas". Por isso, direi uma só vez, do fundo do coração, obrigada. Àqueles que passaram pelo blog, leram os textos e me parabenizaram sinceramente. Àqueles que passaram pelo blog, leram os textos e enviaram suas críticas, torcendo por este ou por aquele lado, pedindo melhorias. Àqueles que passaram pelo blog, leram os textos e preferiram se calar, guardando para si as impressões que tiveram, mas, ainda assim, me deram a honra de umavisita anônima. E até àqueles que passaram por aqui e nada leram, mas deixaram o Demo guardadinho em seu Histórico, considerando a idéia de voltar para uma visita mais demorada.

Aos que deixam comentários quase anônimos, peço um favor: registrem seus e-mails e/ou páginas pessoais para que eu possa retribuir a atenção. Não só o número de visitantes me espanta, como também o fato de que não conheço a metade das pessoas que tem passado por aqui! Sinal de que o Demo está indo mais longe do que o planejado. Mas nunca mais do que o desejado.

Sem mais, deixo-os com quinto capítulo de Caia na Noite.



As coisas como são


Gorducha, Cristiane continuava sentada na beira da cama, com ar perplexo, olhando fixamente para a amiga, que, indiferente ao seu espanto, sentava-se diante da cômoda com uma toalha envolvendo-lhe a cabeça, feito um turbante.

– E você topou?

– Lógico, Cris. Não posso amarelar agora, né?

– Li, por que é que você não esquece essa estória de uma vez? Você nem sabe nada sobre o cara. E se for tudo mentira? Aliás, com certeza é! Assiste mais à TV, olha quantas meninas se dão mal indo atrás desses xaropes. Vai que, Deus me livre, o sujeito resolve raptar você ou pior...

– Não fala besteira!

O olhar enfurecido de Liliana intimidou a amiga, mas não abalou suas convicções.

– Li: sabe o que tem nesta cidade? Tem seqüestrador, estuprador, assassino serial, talvez até seita demoníaca, sacrifício humano, eu sei lá! Mas não existe...

– Quem falou que não? Você? E o que você sabe? Cê não sabe bosta nenhuma. Seu problema é que você tem medo de se arriscar. Melhor não acreditar mesmo que existem coisas que você não entende, se não você não dorme à noite.

Liliana, um tanto ofegante do desafio, fitava Cristiane, sentindo-se vitoriosa.

– Sabe o que mais, Liliana... saco cheio. Parei com você!

A amiga despeitada retirou-se. Liliana não se preocupou em seguí-la; a empregada poderia abrir o portão da casa para ela sair, e precisava aprender a não questionar quem tinha a razão. Seria, aliás, a primeira a saber quando Liliana – melhor dizendo, Lilith ­– conquistasse aquilo que mais desejava. E como ficaria apavorada; iria ser divertido vê-la sujar as calças. Ela e todos os outros idiotas do colégio.

Livrou os cabelos da toalha molhada: estavam castanhos. A tinta era cara, mas a prática a tornara experiente e agora tingia os próprios fios em casa, sem problemas. O tom chocolate da embalagem assemelhava-se muito à sua cor natural, mas, na sobreposição de inúmeras tinturas que seus cabelos já haviam sofrido, estavam agora castanho-avermelhados. Teria de servir, pensou. Fabiano iria gostar. Já notara que ele preferia garotas naturais, por isso também não exageraria no rosto. Só um batom. Não: apenas um brilho discreto.

Não ponderou a razão de estar, de imediato, tão interessada em atraí-lo. Talvez porque ainda não conhecesse homens inacessíveis. Talvez porque, se ele viesse a apaixonar-se por ela, certamente lhe daria tudo o que ela pedisse. Devia ser assim o amor entre um homem e uma mulher, pensava; ao menos, era assim o amor entre ela e seus pais. Por isso mesmo detestava os meninos do colégio: não ofereciam gentilezas, não davam os presentes certos, enfim, não sabiam agradar uma garota como ela.

Na semana que vem, surpresas no centro da cidade às... Vinte e três horas.


 

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