sexta-feira, junho 17, 2005

Amor e sexo

verdade não dói

Sempre achei que amor e sexo eram a mesma coisa. Idéia de menina. Casar virgem. Perder o cabaço com o grande e único amor de uma vida.


Um dia descobri que costumam andar juntos, amor e sexo, mas não são inseparáveis e definitavamente não são a mesma coisa. Sexo, nenê, não tem nada a ver com amor. E não falo de música da Rita Lee fazendo hora extra como roqueira. Falo de sexo que é carne e amor que é alma.

Nós sujamos o sexo. Não tentamos limpar. Nós, nossos pais e avós vitorianos atrasados. Algo tão prazeroso só pode ser pecado. Jogamos o sexo no barro, pisamos nele e o expulsamos da sala de estar, da mesa no jantar, do quintal, do passeio à beira-mar. Aprendemos o silêncio do sexo, o constragimento do sexo. Até tivemos vergonha do amor. Menina casava virgem e não conhecia as poses que o marido praticava com as putas. Um dia houve liberdade e passamos a poder falar o nome do sexo, as coisas do sexo, suas cores, sons, cheiros, artisticamente, suinamente. Só para não sermos como a geração que envelheceu.

Hoje, menina não quer ser menina. Nasce sonhando em ser mulher, tem pressa de seios e insinuações. Pressa de pintos. Ontem era proibido falar. Hoje é obrigatório. Quem não falar e corar quando ouvir será castigado. Mas amanhã também seremos velhos com nossas manias e obrigações, com nossa liberdade enganosa que celebra a indiscrição mas não permite a espontaneidade, que encoraja o precoce e zomba do tardio. Que não admite a virgindade, ainda que sincera. Que faz da inocência genuína uma vergonha doente. Ai dos discretos: serão banidos. Ai das crianças: prontas ou não, serão atiradas na arena do adulto. Orgasmos múltiplos para você. Trepada 7 dias por semana. Se não rolar, trate de fingir, ao menos para contar aos amigos. Afinal, quem é você sem sexo?

O dever dói em quem é verdadeiro tanto quanto a proibição.

Fizemos do sexo uma coisa suja. Se limpasse estragaria. Boa parte da graça do sexo está nos palavrões sussurrrados, nos gritos que imitam dor embora expressem prazer, no tapinha-não-dói, no mamãe-não-quer-papai-não-deixa, na falta de escrúpulo. No segredinho encardido.

E o amor? Amor pede sexo. Mas sexo não pede amor. São irmãos que se confundem, se detestam, se adoram perdidamente e se afastam só para voltar a se agarrar.

Amor é imaculado. Sexo é imundície. Chafurdemos.


 

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