sexta-feira, dezembro 30, 2005

Arquivo Morto - redivivo

Eu estava visitando o blog da colega internética Márcia, o Insanatorium - que está nos meus Parceiros, lado direito da página, lááá em baixo, e que recomendo a todos os pirados de plantão - e me deparei com um post entitulado Arquivo Morto.

Lembrei de um sonho que arquivei.

Quando adolescente, escrevi muita poesia. Material bem diversificado pra no mínimo dois livros. Já tinha até os títulos, as introduções e a ilustração de capa de um deles. Tinham até faixa-título, os danados, feito LP de banda de rock. Meus xodós durante muito tempo, meus bebês malditos. Onde é que entra mesmo a referência ao post da Márcia? Ah, é. O nome do primeiro livro era pra ser Arquivo Morto.

Não é que eu tenha abandonado o sonho de publicar. Só porque poesia não vende neste país? Imagina... eheheh. Não. É que com o tempo fui percebendo que aquela poemalha que noutra era me encheu o ego era composta basicamente de porcaria. Sem falsa modéstia.

Todavia e por todas as vias, há no meio dessa verseira qualquer coisa de bom. Talvez por ter sido realmente ruim na época; ruim de deixar guardado, bom de pôr pra fora, e como a escrita me serve como dilúvio, quero dizer que há poemas que ainda considero bons nessa multidão abandonada. Percorro as suas linhas e sei que apesar da passagem das estações eu ainda estou lá, adolescente, hesitante, absolutamente possessa. Como só o Demo, sentado aqui no meu ombro, poderia saber.

Tirando a linguagem pedante e a mania insuportável de recorrer a um palavreado pouco acessível, isso aqui até que é porreta. E bem sincero.

Ofereço aos endemoninhados, como último texto do ano, este longo farrapo do meu ser boneca de trapo.


Da Virtude Pecaminosa

Bate em meu peito o simulacro de um coração
Que sangra um caldo doce (não derivado de algo vivo):
Sou o féretro da pureza e o berço da frivolidade;
Bebo a essência de uma dor fictícia
Para esquecer-me da que foi minha.
Sou meu admirador mais devoto,
Meu crítico mais cruel,
O confessor dos meus pecados,
Meu pior inimigo.

E a vaidade...
É este o lacre sobre meu verdadeiro eu
E a chave para as portas da cela.
Eu não me recordo...
Para que nasceram realmente as belas palavras
Que atiro como escarro em descartável papel
Numa língua que admiro,
Cujo significado me escapa.
Minhas mãos não conhecem desabafo.
Minha boca não sabe rogar por absolvição.
E a vaidade torna belo o que é fútil,
Como o efêmero se torna caro,
E o trivial, esplendoroso.

Por um momento, eterno pareceu-me,
Não me lembrava da dor real:
Fantasiava doces ferimentos,
Medindo sua vã profundidade;
Fervilhava-me o sangue, jorrava farto
Das veias que eu mesma me partia
(O corpo meu em falsa carne viva
Simulando o sentir na carne morta.)

É a vaidade que julga belo o rubro tom do sofrimento
E o brilho inigualável duma lágrima
Que incinera a pele onde coleia
(É o capricho que a empurra para fora de meus olhos?).
A vaidade tem garras e peçonhas
Para cravar em chagas teatrais.

Eu me exponho minhas escaras,
Mas elas se assemelham a pinturas no rosto dum truão
Pronto para o baile de aberrações;
Borrões de tinta nos dedos inaptos do aprendiz
Que queria pintar a agonia
Com todas as cores da Criação;
Defeitos de nascença – trivialidade.
Eu, artista frustrada:
Fértil imaginação, estéril sentimento.

Olhei para o espelho em busca de alguém
Que se escondia sob uma máscara.
Ah, eu rasguei toda a sua rica fantasia;
Qual não foi meu júbilo ao julgar seu pranto alto,
Mas – ai de mim – não havia viv’alma ali atrás!
Por tudo que há de sagrado
E ainda se nada houver de sagrado,
Afasta da minha vista essa abominação.

Sim, por vaidade obrigo-me a olhar
Nos olhos das chamas (sim, que ardam os meus).
Por isso parece a morte bela e franca
Se uma flor a simboliza,
Como tudo o que o drama torna em arte mais solene:
A ironia do ser humano que foge de seus monstros
Quando é monstro a fugir da própria humanidade;
Do condenado que sorri e acena
Com a corda em torno do pescoço,
Da beleza assassina da espada que reluz
Ao brilho do Sol, que vem desfilar
Sobre o tapete vermelho de corpos no campo.
O que é mais sublime
Do que as lágrimas num rosto
Ambiciosas de superar a chuva?

Por vaidade – por vazio da alma,
Por medo daquilo que fere fundo,
Áspero, cru, por ser real.
Arranha tua pele até que sangre
E não mais sentirás coceiras.

Por vaidade,
Permito-me acrescentar mais cor ao sangue,
Mais poder ao carrasco,
Mais agonia ao lamento.
É a distância entre o pecado e a virtude
Maior do que o espaço onde se fundem?

Não é meu egoísmo mais do que decepção
Quando o temor se pronuncia sem jamais se revelar?
E a malícia – inocência deturpada
Ou insegurança travestida?
Minha arte? Meu abrigo e perdição.
Cárcere e mundo, salvação e solitude
Nos campos áridos da alma.

Quando de lendas vive o cético,
A hipocrisia perdoa o coração.
Sobra-me este mal, meu deleite:
Eu me sento só num canto escuro
E choro uma dor que não é minha.

01.02.1997 - É. Eu ainda não tinha feito 16.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Meus votos.

Queridos amigos,

Que no ano que dentro em breve se iniciará vocês não tenham sorte. Não; sorte é um conceito muito arbitrário. Que vocês tenham, em vez disso, muita força. A força pra correr atrás dos seus objetivos, a garra pra enfrentar os obstáculos, a perspicácia para reconhecer e agarrar oportunidades, a vontade de viver e deixar viver e o poder de perdoar - a si mesmo e aos outros - por falhar de vez em quando.

Acima de tudo, que suas atitudes sejam sempre positivas e suas mentes, sempre iluminadas pela sensatez, mesmo nas horas mais escuras.

Quero agradecer a todos os que acompanharam meu trabalho e que estiveram na torcida por mim em 2005. Agradeço em especial àqueles que me presentearam dia após dia com sua amizade. Acreditem, nada que Papai Noel, aquele velho batuta, me trouxesse poderia me fazer mais feliz.

Por fim, peço a todos um favor, mas um favorzão mesmo:

DIVIRTAM-SE!

Divirtam-se no trabalho, mesmo quando o salário não for lá essas coisas. Divirtam-se em família, mesmo que de vez em quando houver conflito entre vocês e seus irmãos, pais ou filhos. Divirtam-se com seus amores, mesmo quando ela estiver de TPM ou ele, zangado porque o time perdeu. Em suma: divirtam-se reconhecendo a grandeza das pequenas coisas. Encontrem prazer na vida, mesmo que estejam sem grana pra fazer aquela incrível viagem dos sonhos.

Mas se fizerem, não esqueçam de me chamar, hein!!!

Rs...

É isso.

(E haja otimismo.)

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Prelúdio da Queda

um tributo a Poe

Este não é um conto novo, mas nutro um carinho especial por ele por se tratar do meu humilde tributo a um dos maiores autores de terror de todos os tempos, certamente conhecido de todos aqui: Edgar Allan Poe.

Não se trata de uma tentativa de copiar o mestre, o que seria, além de presunçoso, inútil. Apenas tomo emprestados alguns elementos da sua fantástica obra que, espero, os leitores poderão identificar com facilidade.

Para vocês:


Prelúdio da Queda

Berenice suspirou. Seus olhos eram pálidos faróis; seu rosto era um rochedo severo; seus cabelos, um mar revolto e prateado que inundava seu leito de morte.

Ainda assim, era bela. Belíssima para o olhar do rapaz que lia paciente um livro qualquer, buscando distraí-la de sua dor:

– “A felicidade efetivamente consiste no meio-termo, nem muito alta nem muito baixa; à opulência nascem-lhe cedo cabelos brancos, mas a simplicidade tem velhice longa...”

– Roderick...

– Sim?

– Já basta. Sabe que Shakespeare me põe doente.

– Então, diga-me que livro é capaz de deixá-la sã novamente, minha mãe! – O rapaz procurou sem sucesso conter a emoção na voz contradita, que ecoou nos arcos pontiagudos da câmara. Estreitou a mão da anciã entre as suas.

– A senhora parece tão pequena – murmurou. – Tão miúdos estes dedos que já se enrolavam nos meus cabelos quando eu mal sabia falar.

– Você era um lindo menino – disse a mulher. – É um lindo menino.

Roderick tinha o semblante pálido como o de Berenice, mas aquecido pelo rubor próprio da juventude. Os cabelos pairavam sobre a cabeça como um elemento mais leve do que o próprio ar. Fios finíssimos e brancos. Como os da mãe. Seus olhos eram de um cinza luminoso no qual se podia entrever um ensaio azul. Olhos que agora irradiavam pesar e indignação. A lágrima que escapou de um deles foi regar a face seca da velha, que cerrou os olhos como quem recebe a carícia de um amante. Ela levou a mão rugosa ao rosto do filho, que a acolheu junto à boca, beijando febrilmente seus dedos.

– Mãe. Minha mãe. Não vá, eu lhe imploro. Esta família inexiste sem a senhora. É nossa alma, nosso eixo, nosso alicerce; não sobreviveremos sem...

– Cale-se.

– Mãe!

– Por Deus, Roderick. Cale-se e escute meu último pedido. Com minha passagem, você se torna o senhor deste solar. Deve tratar com moderada indulgência os seus criados; com hospitalidade os visitantes; com reserva os inimigos. Acima de tudo – ouça-me bem – deve zelar por sua irmã. Você é seu protetor agora. É o guardião de nosso nome e de nosso sangue. Dê-me netos a quem possa mostrar meu retrato e dizer: “Sua avó foi senhora de tudo o que você vê.” Você deve fazer de Madelyne sua mulher.

– Mãe... – O rapaz continha-se agora; seu tom era de resignada censura. – Bem sabe que amo Madelyne. Mas meu futuro está em Annabel. Ela me faz feliz como uma manhã de primavera que nunca tem fim. Ela...

Os olhos de Berenice cresceram numa fúria reprimida.

– Roderick – crocitou, apertando a mão forte do filho. – Annabel não é para você. Por amor a mim, você se casará com Madelyne. Fará nela os seus filhos, belos e perfeitos. Deve preservar nosso nome, nosso clã, a pureza de nosso sangue. Não se engane. Você deve honrar a casa de seu pai.

– Eu não desejo Madelyne! – esbravejou o jovem. – Peça-me qualquer outra coisa, mãe, e eu de bom grado a atenderei; se pudesse, aqui e agora, trocaria minha vida pela sua e partiria feliz em seu lugar. Mas não me peça que abra mão do meu amor. Eu protegerei Madelyne e a tratarei com honra por todos os dias da minha vida, mas não, não farei da minha irmã a minha esposa!

No exato momento em que a sentença se findou nos lábios de Roderick, estes sofreram a aguda contrariedade da mãe num tapa que quase o mandou ao chão. As frágeis mãos da velha Berenice ainda detinham o poder de uma matriarca, ainda que no leito de morte.

O jovem a encarou, a mão protegendo a face ferida, o olhar rancoroso.

– Maldito infeliz! – gritou Berenice. – Gosta de me ver agonizar lentamente, esgotada pela doença, consumida pela sua traição? Por que não crava de vez uma faca no meu peito? Mate-me! Mate toda esta família! Oh, por Deus... mate-me depressa.

A velha agora tinha o rosto virado, envergonhado, banhado em lágrimas. Seu corpo era sacudido por soluços que logo se transformaram num acesso de tosse. Sons roufenhos subiam por sua garganta, salpicando o lençol de vermelho. Ela levou a mão à boca. O rapaz, comovido, jogou-se aos pés do leito, tomando a doente nos braços.

– Oh, mãe! Minha querida, minha adorada, eu sinto tanto!

– Se sente tanto assim, faça a última vontade de sua mãe. Dê-me netos de sangue puro. Como você e sua irmã. Como eu e seu pai.

Roderick respirou fundo.

– Mãe, eu a amo – disse suavemente. – Mas vou me casar com Annabel. Aceite. Sinta-se feliz por mim. Vá para o outro lado em paz. Eu tomei minha decisão. Nem seu choro, nem sua raiva, nem sua morte irão mudar isso.

Uma ira milenar injetou veias vermelhas nos olhos de mulher, que cresceram como dois sóis furiosos. Agarrou com uma mão os cabelos da nuca de Roderick e mostrou-lhe a outra espalmada, pintada do sangue dos seus pulmões. Mostrou-a como uma promessa. E rugiu numa voz que já não era sua:

– Desgraçado seja, meu filho. Eu o almaldiçôo por este dia, por sua escolha, por sua deslealdade. Saiba, Roderick: Annabel não lhe dará filhos. Secarei primeiro seu ventre, depois seu corpo formoso e por último seu coração. Esta será a duração da vida dela ao seu lado: uma manhã de primavera e nada mais.

O jovem nada disse; um protesto morreu em sua boca aberta em espanto. A mágoa feria sua face, mas a anciã continuou:

– Que estas paredes, estas rochas sejam minhas testemunhas e o túmulo de minha linhagem. Eu o amaldiçôo, Roderick, último filho da casa de Usher!

O rapaz soltou-se de um tranco do toque da mãe. A velha Berenice caiu no leito, afundando, entre os lençóis, minúscula, exausta. Mas seus olhos não abandonaram a figura do filho que se afastava, horrorizado. Sua garganta emitiu um último e áspero suspiro, de sumo sofrimento ou sumo prazer.

E então Berenice deixou de respirar. Mas seus olhos ainda estavam abertos numa alegria diabólica, pregados no nada, eternamente inquisidores.

FIM.

Berenice, Annabel e Roderick são nomes de personagens de textos famosos do contista e poeta Edgar Allan Poe; Prelúdio da queda pode ser considerado como um fanfic em homenagem ao conto A queda da casa de Usher.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Rapidinha 1

Quero escrever uma carta de despedida que abale até Julieta,
Um adeus que sangre até os pulsos de quem tem a certeza da paixão,
Uma elegia que busque o pranto até na cova do tirano defundo
E que mesmo sem rima ponha a inveja na alma de quem canta o amor em Languedoc:

Já vai tarde, vagabundo,
E não me apareça mais aqui!

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Esta noite para sempre

o texto é velho, a emoção é permanente

Seja meu esta noite para sempre.

Porque todo dia eu confundo seu corpo com o meu. O dedo que coça minhas costas é da sua mão. O olho que pisca em seu rosto é meu. O pêlo que nasce rebelde é de ouro no seu pescoço e de carvão na minha têmpora. Um fio sem dono. Sem propósito. Que arranco de mim – e ele sai de você.

Os versos de Neruda que martelam minha cabeça foram feitos para a mulher dele. E para você. Que é meu homem. Que ficou na minha boca como a bala de hortelã que a gente não quer que se dissolva. Ficou na minha roupa. No meu corte de cabelo. Na cor da minha barriga no verão.

Como eu fiquei em você. Estou aí. Nas escolhas do seu dia. Na sua lâmina de barbear. Na sujeira que você lavou da pele no banho.

Na sujeira.

Eu o sujei hoje. Foi vermelho e negro como o livro que não li. Foi crime e castigo como o que larguei pela metade.

Provei de mim na sua boca manchada com a cor do meu sexo. Meu dedo na sua boca. Meus fluídos passando a ser seus. Meu corpo escorregando todo cheio de você. Sangue tem quase gosto de lágrima. Fato tem quase jeito de sonho.

Enrubesço quando lembro.

Você, cachorro, vagabundo. Você me obedece. Tortura-me. Disseca-me amorosamente. Nome feio na sua boca é música. Fico querendo dançar. Você vem e faz tudo o que eu peço, tudo o que não pode, só porque eu peço, só porque não pode. Proibir é incitar. Quem mandou proibirem a gente?

Enrubesço, pode acreditar.

Vergonha de gostar do que não presta. Vergonha de achar que não presto. Como a coisa errada pode ser tão deliciosa? Não há coisa errada. Errada é a cabeça. A que nega a coisa. A coisa dentro de mim pulando sobre você. Exigindo você em mim.

Romantismo reverso. Não é hora de poesia. É hora de unhas nas costas, amor sem maquilagem, sem educação, nem estribo, nem escrúpulo.

Eu o ensinei a gostar disso. A adorar o segredo. O que fizemos não tem nome. Não tem descrição. Só gritando para entender. Só estando naquela cama, sendo eu sob você, sendo você sobre mim, atrás de mim, chamando-me puta, vadia, cadela, minha, minha, minha. Sendo sua. Sendo eu. Querendo mais. Mandando fundo.

Seja meu para sempre esta noite.

Só assim para entender.

Olhe para mim. Estou diante da janela escancarada. Eu escancarada. As cortinas voam. A cidade vive. Você me encara.

– Daqueles prédios dá para ver tudo o que a gente está fazendo.

Sou risada.

– Deixa, amor. Voyeur também é filho de Deus.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Na VIP e na EGM!

É no mínimo com um pusta orgulho que posto esta novidade. Projetos nos quais estou envolvida saíram não em uma, mas duas grandes publicações deste mês!

A primeira é a VIP, clássica revista masculina. Entre suas resenhas de livros do mês de dezembro está "Necrópole - histórias de vampiros". Isso mesmo, o livro que escrevi em parceria com mais 4 autores. E está muito bem cotado, na página 167.

A outra é a EGM, conhecida revista para os aficionados em games. Para os que ainda não sabem, estou trabalhando durante o dia na Microways, empresa norueguesa instalada aqui em São Paulo que fabrica jogos para celulares. A revista traz uma bela matéria sobre a atuação da Microways no Brasil. A empresa é responsável pelo jogo Claro Chip, encomendado pela operadora Claro e baseado no popular comercial em que o Chip de celular viaja por cenários mirabolantes. Tem até uma foto da equipe do Brasil, com esta enxerida ilustradora bem no meião... Página 28.

Bom, eu precisava dividir a alegria com vocês! Confiram abaixo as páginas escaneadas.

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A capa da VIP

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A resenha de Necrópole na VIP

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A capa da EGM

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A matéria da EGM sobre a Microways

Beijos, abraços e apertos de mão!

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Sobre o texto anterior.

considerações meia-boca

O texto saiu meio à toa, e demorei uns poucos segundos pra escrevê-lo. Não tinha um objetivo. Não o revisei. Nem sequer o li uma segunda vez. Foi estranho. Completamente fora do meu padrão. Mas achei que o resultado ficou bacaninha.

Você pode ler e pensar em como as pessoas se ocupam em dar nomes às coisas e se encaixar em rótulos em vez de curtir o momento.

Você pode ler e pensar que realmente seria nojento transar no banheiro da boate.

Ou você pode ler e soltar um sonoro "e daí?" e simplesmente não pensar em coisa alguma. Eheheh.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Eles não fizeram amor

delírio nostálgico

Eles não fizeram amor no banheiro da boate. Não; porque na opinião deles esse negócio de fazer amor era brega demais. Amor não se faz, ele está aí ou não está, se sente ou não se sente. Mas não se faz. E não fizeram.

Também não fornicaram no banheiro da boate. O verbo era medieval, soava como pecado, e o casal moderninho não pensa nessas coisas como pecado. Nada de fornicação, nem sob o consentimento do rei.

Tampouco copularam no banheiro. Copular lembrava à mocinha do casal uns versos estranhos que lera quando criança que falava de minhocas copulando dentro da boca de uma índia que depois paria pacas. Não que tivesse parido muito. Não, parira pacas, mesmo, aqueles roedores parecidos com capivaras. Um poema escrito mui provavelmente sob a influência de poderosos psicotrópicos, mas de todo modo ela jamais admitiria copular. Então, não copularam.

Acasalar no banheiro, de jeito nenhum! Ela não estava no cio, ele não estava empenhado em fecundar o maior número possível de fêmeas e eles não eram mamíferos num documentário repetido do Discovery Channel. Nada de fecundar.

Foder no banheiro? Nem pensar. Ainda não estavam num tosco filme pornô ou numa letra de rap.

Transar no banheiro, não, amor, que palavrinha mais desprovida de poesia...

Não transaram. Não foderam. Não acasalaram, nem copularam, nem fornicaram. Nem mesmo fizeram amor. Na verdade, o banheiro era bem sujinho, e imaginem vocês quantas pessoas já haviam feito isso tudo aí lá dentro.

Pois é, o casal pensou, e nada fez. Preferiram ir a um lugar onde pudessem ao menos dizer, sem mentir mas omitindo, que dormiram juntos.


 

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