sexta-feira, junho 23, 2006

O Sabor das Primeiras: Capítulo 1

Povo todo,

Está na hora de conhecer o destino de Liliana. Sim: a protagonista petulante, gostosinha, ambiciosa e insuportável de
Caia na Noite, história publicada cá no Demo no ano passado, está de volta ao blog em uma nova novela. Novela porque vem dividida em episódios ou capítulos. Nada a ver com telenovelas brasileiras. Ah, já expliquei isso antes.

Liliana, anteriormente uma adolescente burguesa, amadureceu, e com ela também meu estilo de escrita. Caia na Noite foi escrito um ano antes de sua publicação, em março de 2004. De lá para cá, evoluí bastante, lançando os livros Necrópole - histórias de vampiros e Necrópole - histórias de fantasmas e firmando minha posição como escritora em inúmeros espaços virtuais de literatura. Uma evolução que devo não só à pratica como a todos vocês, leitores, que vêm acompanhando e enriquecendo meu trabalho com seu apoio e suas críticas. Muito obrigada a todos.

Voltando a Liliana, vocês descobrirão que apesar de algumas mudanças ela continua basicamente a mesma. Suas aventuras mantêm o tom de suspense bem-humorado, a leitura rápida e uma leve sátira social. É sua obsessão que cresceu, ganhou força e velocidade. Sim: Liliana continua determinada a tornar-se uma vampira. Vamos saber se, agora, bem-vinda ao mundo adulto, ela se sairá melhor do que a garota que nada conhecia do mundo. Desta vez, ela não medirá esforços. Seus motivos? Seus métodos? Suas conseqüências? Comece a descobrir no primeiro capítulo, neste mesmo post.

E atenção: alguns capítulos contarão com a participação especial de personagens de outros contos meus, além da inserção de algumas novas e interessantes figuras. Ao final de cada capítulo, toda sexta-feira, uma chamada para o próximo que, espero, lhes dê água na boca.

E para você que não acompanhou a primeira aventura dessa garota realmente problemática em 2005, não se acanhe. Não é necessário ler Caia na Noite para compreender O Sabor das Primeiras. Mas se quiser, e eu recomendo, acesse os 10 capítulos da história nestes links:

Capítulo 1, Capítulo 2, Capítulo 3, Capítulo 4, Capítulo 5, Capítulo 6, Capítulo 7, Capítulo 8, Capítulo 9 e Capítulo 10.

E agora, vamos ao que interessa.



O Sabor das Primeiras: Capítulo 1
Dúvidas, vampiros e uma bolsa de vinil

Ela sabe exatamente o que quer. Não tem a menor dúvida quanto a seu destino, nunca teve, e vai persegui-lo a despeito do fracasso, do ridículo, do improvável.

O trem a embala com seu sacolejar rítmico, ela se sente ninada, mas vai alerta, olhos vorazes experimentando tudo na paisagem cinza. Olhos castanhos, e ela acha doloroso tê-los tão triviais. Por isso a maquiagem desenha uma personalidade enigmática em seu rosto, ou assim ela planejou quando a fez. Ela se preparou bem. Relembra as últimas palavras que ouviu ao telefone.

Se você duvida, eu posso provar, ele disse há algumas horas.

Mas se for mentira, apressou-se em responder, você vai ver.

Ameaças, minha querida? Tão cedo? Talvez você precise de uma lição. Que vou adorar te ensinar, caso você me dê o prazer da sua companhia. Por que não vem se encontrar comigo hoje à noite?

Vestiu-se às pressas e, agora, está a caminho. Voltou a tingir os cabelos – desta vez de preto, o tom que melhor contrasta com a pele naturalmente alva, motivo maior de seu amor-próprio. Pele de notívaga. A bolsa de vinil bordada com um morcego vermelho ainda a acompanha.

Chegando lá, tentará não parecer ansiosa. Lembra-se com tédio e raiva de quantas vezes atendeu a chamados similares. De quantas vezes perdeu seu tempo.

No ano anterior, foi Fabiano. Atraiu-a com promessas, brincou com seu coração, com sua cabeça, distraiu-a, despistou-a, disse-lhe não – e desapareceu. Fabiano e sua namorada sardenta, loura, desagradável. Foi culpa dela. Não fosse por Marisa, Fabiano certamente teria se convencido do seu merecimento. Teria dado a ela o poder que exigia.

Deve haver uma troca, material ou espiritual, o que seja. Ela ainda não tem certeza de como a coisa funciona. Mas não é Fabiano quem vai lhe dizer. Ele está riscado da sua lista.

Depois desse contratempo em forma de homem veio Laura. No mesmo ano, conseguiu encontrá-la por meio do primo daquele amigo daquela amiga e por aí vai.

Laura, dizia a fonte, conhecia vampiros. Na verdade, eles haviam mudado completamente sua vida.

Lembra-se da expressão impaciente da garota logo que a encontrou naquele café esperando por ela. Seria ela mesma? A descrição batia. Era bonita, e ela se sentia ameaçada pelas mulheres bonitas como o macho alfa de diante do cão estranho que ronda a matilha. Endireitou o próprio corpo antes de cumprimentar a rival em potencial. A garota de cabelos claros presos na nuca não se levantou. Pareceu olhar para a inseparável bolsa de morcego com olhos de reprovação.

– Você é a Laura?

– Sou.

– Prazer. Sou Liliana. – Precisava ser gentil. Quando se sentem lisonjeadas e bem tratadas, as pessoas lhe dizem tudo o que você quer saber, e ela já sabia disso. – Quer um café?

– Já pedi um chá. Agora, sobre aquele assunto... vamos falar baixo. Não quero que ninguém pense que eu sou doida.

– Não acho que você seja doida. E preciso saber de tudo o que você sabe. Pode contar?

– Você quer saber dos...

– Vampiros.

– Não. Nós não usamos essa palavra. – Laura suspirou, sentindo-se condicionada. – Pelo menos foi o que me ensinaram. E acho que é melhor assim.


Pra quem não percebeu, Laura é a protagonista de A Casa dos Loucos, meu conto em Necrópole - histórias de vampiros. Claro que sou suspeita pra falar, mas recomendo o livro, eheh. Na semana que vem, saiba o que vai rolar entre Laura e Liliana no segundo capítulo: Garotas, pesadelos e uma xícara de chá. Espero por vocês!


 

StatCounter