sexta-feira, julho 28, 2006

Comunicado do Demo

Nesta sexta-feira, excepcionalmente, o capítulo 6 da série O Sabor das Primeiras não irá ao ar por motivos de força maior, que podem ser:

1. O demo ficou tão feliz por este blog ter ultrapassado a marca de 10 mil acessos que resolveu descer do meu ombro e decretar feriado infernal até enjoar; sem ele, não dá pra escrever.

2. A autora está atolada em trabalho e, com ou sem demo, está sem tempo pra escrever.

3. A autora está com preguiça, não vai escrever hoje e pronto.

4. Ah... vocês é que sabem.

Aguardem para muito em breve a continuação dessa aventura nada heróica.

quinta-feira, julho 20, 2006

O Sabor das Primeiras: Capítulo 5

Noites, encontros e aliados improváveis

Se você duvida, eu posso provar, ele disse há algumas horas.

Mas se for mentira, apressou-se ela em responder, você vai ver.

Ameaças, minha querida? Tão cedo? Talvez você precise de uma lição. Que vou adorar te ensinar, caso você me dê o prazer da sua companhia. Por que não vem se encontrar comigo hoje à noite?

Foi Dora Cruz quem lhe deu o telefone de Saul. Deve ser piada, foi a primeira coisa que pensou. Mas compreendeu que sua ousadia e determinação lhe haviam garantido o respeito de Dora e com isso o contato por que tanto ansiava. Ela sabe tudo do assunto, não sabe, essa tal Dora? Não ia pensar em tapeá-la depois de ver que Liliana falava sério.

O mundo é dos ousados. O Poder é para aqueles que se atrevem a buscá-lo, ela repete consigo, como já fez tantas vezes. É sua frase de efeito preferida, que utiliza como assinatura em seus e-mails e principal rabisco nas capas dos cadernos.

Concluiu naquele ano o colegial e acreditou que com isso daria adeus àquele mundinho estreito e sem-graça dos adolescentes, dos filhinhos de papai do colégio pago, aquela gente cheia de dinheiro e maus hábitos e nenhuma ambição. Nenhuma visão.

Mas Liliana tem visão. Tem um objetivo. Sempre o teve, mesmo antes de se dar conta disso. Objetivos inalcançáveis para pessoas comuns e suas mentes restritas.

Sim. Liliana quer ser uma vampira. E está prestes a conseguir.


Breve interlúdio


Ela está de costas. Cabelo ao vento. Ele se aproxima devagar. Sem som. Felino; para a maioria das pessoas, sua presença é uma surpresa. Para ela, um costume que já não espanta.

– Pode parar de andar na ponta do pé, Fabiano. Eu não caio mais nessa.

– Muito bem, você me pegou.

– Foi seu bafo que te denunciou.

– Larga de ser ranzinza. Eu só ia brincar com você. O que é um sustinho entre amigos?

– Considerando a espécie de amigo que você pode ser, qualquer vacilo é sentença de morte.

– Garota esperta.

O rapaz pára ao lado dela, os cabelos claros arrepiados, os polegares encaixados nos passantes do jeans. Não a encara. Olha para baixo. Lá na rua, os carros parecem brinquedos luminosos numa pista em miniatura. Ele sorri.

– Que história é essa de marcar encontro em topo de prédio, Dora?

Olhos oblíquos, pretos, o observam de soslaio.

– Vocês gostam dessas coisas, não gostam? Topo de prédio, alto de torre, ponte deserta... tudo bem dramático.

– Eu não gosto. Isso é coisa da Marisa.

– Marisa e seu teatrinho.

– Não fala nada da minha namorada, Dora. Você pode não ter medo de mim, mas com ela, tem que tomar cuidado.

Desta vez o rosto da mulher se volta para o dele. Seu sorriso é de curiosidade e deboche.

– É mesmo? O que é que ela pode fazer, Fab? Quebrar o nosso pacto? Eu adoraria ver isso. Não me provoca, vai, lindo.

Fabiano suspira. Não quer navegar por esses mares.

– Por que você me chamou aqui, Dora?

– Pra te avisar. – Ela mete a mão no bolso de trás da calça e tira de lá um pedaço de papel. – Tem uma pessoa que está atrás de vocês.

– De mim? Da Marisa?

– Não. De vocês, da sua gente. Aqui, entenda “gente” como termo respeitoso mas inadequado.

– Dora...

Há censura na voz do rapaz. Ele bem poderia soltar um palavrão, mas ela coloca o papel em sua mão. Pelo tato, é uma foto. Ele a traz para junto dos olhos. A mulher continua.

– Mandei ficarem de olho nela. Tiraram essa foto pra mim na porta de uma boate. Essa menina é xarope. Está procurando um vampiro. Qualquer um. Não precisei pensar muito pra sacar qual é a dela. Se conheço o tipo, não vai desistir até se ferrar de verdade, ou pior, machucar mais alguém no processo. Você é conhecido na noite. Ela é persistente, vai acabar te achando. O nome dela é...

– Liliana.

– Hã?

– É a Liliana! A Lilica!

Fabiano ri, olhando a foto segura nas duas mãos. Dora não compreende e apenas fita.

– O cabelo tá diferente, mas é ela mesma.

– De onde você conhece a Liliana?

– Da noite, Dorinha. De onde mais? – Nova torrente de risadas toma o alto do prédio e é abafada pelo vento gelado da cidade. – Enquanto você vai, eu já estou voltando, querida. Conheci a Liliana no ano passado. Cheia de sonhos. Um pesadelo de menina. Lindinha. Burra e esperta de uma vez só. Quer dizer que ela continua nessa cruzada pós-moderna pirada? E eu que pensei que tinha convencido a menina de que ela não nasceu pra coisa.

– Acho que não convenceu. – Dora usa um tom casual, mas não sabe ocultar a surpresa.

– Longa história.

– Um dia você me conta. O caso é que ela pode te procurar de novo. Vai saber. Se ela aparecer, não dá atenção, OK? Despista a mala.

Os olhos dele destilam malícia. Quase lambe os beiços de prazer.

– Da outra vez eu quase matei a menina de medo. Foi muito divertido. Se ela for trouxa o suficiente pra vir atrás de novo, então ela merece o repeteco. Por que eu iria perder essa oportunidade?

Dora se aproxima devagar do rapaz. Tão devagar que poderia morrer numa reação dele. Tão próxima que poderia beijá-lo. Mas ele a encara e não se move, e ela não faz nenhuma das duas coisas. Apenas diz:

– Porque você não é tão idiota quanto gosta de parecer, Fabiano. E porque mesmo que você fosse, a Marisa tem cérebro suficiente pra não me provocar. E se a vida dela é um teatro, você é um fantoche, e faz o que ela quer. Né, bonequinho? E ela faz o que eu digo, porque gosta de viver. E vocês só estão vivos porque nós temos um pacto. Você não mata e não morre. O diabo sabe lá como vocês têm sobrevivido, mas sei que não estão matando e continuo de olho em vocês dois. Em vocês todos. – Seu dedo indicador, nervoso, finca-se sem intenção no peito do rapaz, que vacila, mas não recua. Ela toma fôlego. – Meus olhos estão por toda a cidade. Você sabe disso. Continue não matando e continue não morrendo. Somos amigos. Mas se eu souber que você machucou de verdade alguém, nem que seja essa putinha retardada da Liliana, eu estouro essa sua boca de sanguessuga. Detono tanto a sua cara que você vai ter que tomar sangue por via retal. Gostaria disso? Gostaria? Hein?

Dora ofega; ele conhece o frenesi em sua voz e não responde. Ela reconhece a própria euforia. Ódio, talvez, ela pensa; talvez o odeie. Não seria ruim nem inapropriado. Ruim seria amar a idéia de odiá-lo e cumprir as palavras ditas sem pensar. Não morte, mas violência; não castigo, mas tortura.

Ela se sente suja. Por sorte, seu rosto é moreno demais para corar.

– Dora Doriana – murmura o rapaz. – Quanta paixão. Se eu não adorasse a Marisa, arrancava sua roupa e te traçava aqui mesmo.

– E eu arrancava suas bolas. Me jogo deste prédio antes de trepar com sanguessuga.

– Isso pode ser arranjado.

– Vai se danar.

Não há mais emoção em suas vozes, só tédio. Costume. Já não podem impressionar um ao outro. Ela permanece parada na borda e ele se retira a passos lentos. Abre a porta da cobertura, mas antes de desaparecer pela escada, seus olhos se acendem.

– Dora? – Agora ele é polido, quase doce.

– Hm?

– O que você falou pra Liliana?

– Nada demais.

– Conta, vai. Eu vou colaborar. Prometo.

A mulher vira o rosto, deixando-o ver que sorri maliciosamente.

– Dei pra ela o telefone do Saul.

Silêncio no topo do prédio.

– Você é louca, Dorinha.

– Relaxa e assiste, moleque. Se eu conheço o Saul, vai valer cada segundo.

Ela ri. Ainda ri quando Fabiano some pela escada escura do velho edifício.

Dora gosta dos prazeres solitários.


Fim do interlúdio

Liliana pára diante da boate e respira fundo. O lugar é bastante estiloso. É pop; nada como os buracos a que Fabiano a levou. Talvez seja um bom sinal.

Que aspecto terá Saul? Liliana diz a si mesma que se for um charlatão ela fará uma cena inesquecível. Bem pior do que a do boteco na semana anterior. Não está aqui para ser objeto de chacota.

Ela alisa o tecido da blusa sobre a barriga, ajeita o decote generoso – já ganhou outros com a visão do belo colo cor de leite, sempre se deve tentar...

Confiante, mostra o RG ao segurança de terno. Ele ergue a cortina preta da porta. E Liliana entra.


Neste capítulo mais longo do que o comum e antecipado - entrando na quinta-feira e não na sexta - revemos Fabiano, o vampiro mais pentelho que já caminhou sobre a face da terra. O rapaz foi o céu e o inferno de Liliana em Caia na Noite. Quem não leu, já sabe, tá no blog, corre atrás. E na semana que vem... ah, vou deixar vocês imaginarem o que vai rolar.

segunda-feira, julho 17, 2006

Hoje.

Hoje em dia tudo nasce e morre numa velocidade tão grande que estamos atravessando várias eras em apenas uma vida.

Eu me lembro de trocar cartas com pessoas de todo o país e não possuir internet. "O que será um e-mail?"

Lembro-me de escrever à mão e não saber usar um computador. Achava a máquina de escrever uma coisa complexa e monstruosa.

Lembro-me de algumas pessoas que no meu tempo de criança não tinham nem telefone em casa - eu mesma não tive durante muito tempo, e a família passava bem sem ele, curiosamente.

Hoje as crianças carregam celulares para a escola. Baixam trabalhos completos da internet para apresentar na escola. Sentem-se fora da moda sem um IPod. Ensinam a gente a usar as novas ferramentas da internet. E ouvem celebridades-minuto, fadadas ao esquecimento desde que nascem. As bandas clássicas estão morrendo, acompanhando o rock 'n' roll, que segundo Kravitz já morreu. As novas duram pelo tempo de uma piscadela.

O que era em minha infância já não é.

Rápido demais. Rápido demais. Vivemos um tempo de coisas efêmeras.

sexta-feira, julho 14, 2006

O Sabor das Primeiras: Capítulo 4

Telefonemas, colhões e um Bloody Mary

Liliana tinha pressa e o número era de um celular em São Paulo. Ligou três vezes durante todo o dia seguinte, caixa postal, caixa postal e caixa postal. Arriscou à noite, depois da aula, e obteve o primeiro alô.

– Desculpe por ligar a esta hora, mas tentei o dia inteiro e...

– Tudo bem. – A voz do outro lado era firme e agradável. – Este é meu horário de trabalho normal. Posso te ajudar?

– Meu nome é Liliana. Eu preciso falar com você sobre vampiros. É... urgente.

Em 40 minutos ela estava no boteco sugerido. A mulher atrasou-se 10 minutos, mas, quando entrou, Liliana sabia que era ela. Pois seus olhares não se cruzaram, mas ela a viu ir direto para o balcão, sentar-se num dos bancos altos e pedir em alto e bom tom:

– Jô, me vê uma caipirinha.

– Com pinga mesmo, Dora?

– Se não for de pinga não é caipirinha.

– Há controvérsias, sabe?

– Vodca não tem brasilidade, meu velho. Vai pedir caipirinha na Rússia pra você ver.

– É? O que eu vou ganhar? Um chute no cossaco?

– Ai, Jonas, você podia ter me poupado dessa...

Mas Liliana não prestou atenção ao resto da conversa, que teria se estendido em momentos intermináveis de filosofia de botequim se ela não os interrompesse. Aproximou-se com o cartão de visitas na mão, arriscou um olá, e antes que se apresentasse foi notada pela mulher, que lhe apertou a mão e olhou para ela de cima a baixo.

– Você é maior de idade, né?

– Sou – respondeu sem hesitar.

– Bebe uma caipirinha?

– Prefiro um Bloody Mary, tem?

O enorme barman meneou a cabeça em resposta e foi para trás da estante de bebidas buscar tomates. Quando olhou para Liliana, ela percebeu que ele tinha um enorme corte, já cicatrizado, cruzando o rosto em diagonal. Guardou o cartão na bolsa e ofereceu à outra, que a olhava com expectativa, o que julgou ser um sorriso simpático.

– Dora Cruz, né? – disse. – Um nome bem adequado pra quem faz... o que você faz. – Examinou com cuidado o rosto moreno, os olhos amendoados, as linhas suaves, a despeito da expressão determinada.

– Eu resolvo problemas com dentes pontudos demais. Não foi por isso que você me ligou?

– Você mata vampiros?

– Se preferir. – Dora foi acompanhada em sua risada pelo barman que voltava. – O Jonas aqui não gosta muito dessa palavra.

– Deixa quieto, Dorinha. Eu nem lembro mais. – Apesar do sorriso debochado, ele passou a mão sobre a cicatriz no rosto, instintivamente, enquanto depositava a bebida de Liliana sobre o balcão. Ela imaginou se seria prolífico falar também com ele mais tarde.

– Bom, menina. Me fala do seu problema. Você precisa se livrar de um vampiro?

– Na verdade... preciso encontrar um.

– O quê? – A incredulidade na voz de Dora traiu sua atitude territorial, controlada.

– Você me ouviu. Eu quero encontrar um vampiro. Qualquer um. Você pode achar um pra mim?

– Posso. Com certeza. Sopa no mel.

– Então...

– Mas não vou.

Liliana parou o copo de bebida vermelha a meio caminho da boca.

– Por que não? – perguntou indignada.

Dora bebeu sem pressa um gole de sua caipirinha.

– Porque isso é um trabalho sério – respondeu – e eu já saquei qual é a sua. Não é a primeira entusiasta que me procura. Vocês pensam que vampiros são caras cultos e charmosos que vão levá-las a um mundo maravilhoso onde serão eternamente jovens, viverão bebendo o sangue dos simples mortais e toda essa coisa de cinema. Mas não é por aí, não.

– Mas...

– Sem “mas”. Esses caras são perigosos. Você pode até dar sorte de encontrar um legal que só te dê uma chupadinha de nada, mas a chance de o cara ser um filho da puta que vai te sugar até a morte e te largar pelada numa sarjeta é bem maior. Ninguém vai te dar a tal da “vida eterna” só porque você quer. Vai por mim, menina, a gente não escolhe, eles é que escolhem, e ai de quem for escolhido.

Mas antes que Liliana voltasse a protestar, Dora já se voltara para Jonas como se ela não estivesse mais ali.

– Que saco, Jô. Sempre tem alguém achando que...

Dora sentiu o gosto de suco de tomate, pimenta e vodca invadindo seus lábios. Liliana acabara de jogar todo o seu Bloody Mary no rosto da matadora. Percebeu na hora que aquilo fora um erro. Não devia ter perdido a calma. Todos os rostos presentes se voltaram para ela. Aquele era o território de Dora, um bar escolhido por ela, e Liliana apressou o passo em direção à rua.

Não se surpreendeu realmente ao ser detida pela mão que a agarrou pela alça da bolsa e em seguida avançou para seu cabelo. Ouviu a voz de Dora Cruz junto ao rosto.

– Menina: não vou te bater porque estou vendo que você ainda é criança e porque, pra sua sorte, a pimenta não pegou no meu olho. Mas você tem colhões de vir aqui e botar banca desse jeito. Por isso, vou te dar uma colher de chá. – Seus dedos enroscados nos cabelos tingidos de Liliana não cediam um centímetro enquanto falava, nem quando forçou um papel para uma das mãos da garota. – O nome dele é Saul, ou ele diz que é. Procura o cara nesse lugar. Eu tenho o palpite de que você vai adorar.


É, pessoal, a noveleta está chegando ao fim. Continuem acompanhando a jornada de Liliana, que de heróica não tem nada, pois na semana que vem teremos algumas surpresas!

terça-feira, julho 11, 2006

Como o amor é piegas!

Nada falha, ou, pelo menos, é o que diz a Madonna em Nothing Fails.

Música que não sendo minha eu dedico presunçosamente ao meu grande amor. Parece que fala de nós. E todo mundo que ama já teve essa sensação ao ouvir uma música - seja Jota Quest ou Gershwin, Depeche Mode ou Lulu Santos, Jewel ou Paralamas, Marisa Monte ou Dream Theater.

Aqui, a tradução (muito livre) e a letra de Nothing Fails - Madonna. Toma que é tua, David.


Nada Falha

Estou apaixonada por você, sua coisa boba,
Qualquer um consegue ver.
O que há com você, sua coisa boba?
Só tome o amor de mim .
Não havia chance de nos encontrarmos
E eu sentir meu coração bater.
Você é a pessoa certa.

Você poderia levar tudo isso, levar embora,
E eu ainda teria tudo,
Pois escalei a árvore da vida
E é por isso que não tenho mais medo se cair.

Quando fico perdida no espaço,
Posso voltar a este lugar,
Pois você é a pessoa certa.

Nada falha.
Chega de medos.
Nada falha.
Você lavou minhas lágrimas.
Nada falha.
Chega de lágrimas.
Nada falha.
Chega de medos.
Nada falha.
Você lavou minhas lágrimas.
Nada falha.
Chega de lágrimas.

Eu não sou religiosa,
Mas me sinto tão comovida
Que isso me faz querer rezar.
Rezar pra que você sempre esteja aqui.
Não sou religiosa,
Mas sinto tal amor
Que me faz querer rezar.

Quando fico perdida no espaço,
Posso voltar a este lugar,
Pois você é a pessoa certa.

Não sou religiosa,
Mas me sinto tão comovida...
Mmmm mmm...
Não sou religiosa.
Me faz querer rezar.

Não sou religiosa.
Mas me sinto tão comovida.
Me faz querer rezar.
Rezar pra que você sempre esteja aqui...

Etc... etc.


Nothing Fails

I'm in love with you, you silly thing
Anyone can see
What is it with you, you silly thing
Just take it from me
It was not a chance meeting
Feel my heart beating
You're the one

You could take all this, take it away
I'd still have it all
Cause I've climbed the tree of life
And that is why, no longer scared if I fall

When I get lost in space
I can return to this place
Cause, you're the one

Nothing fails
No more fears
Nothing fails
You washed away my tears
Nothing fails
No more fears
Nothing fails
Nothing fails

I'm not religious
But I feel so moved
Makes me want to pray,
Pray you'll always be here
I'm not religious
But I feel such love
Makes me want to pray

When I get lost in space
I can return to this place
Cause, you're the one

I'm not religious
But i feel so moved
Mmmm mmm...
I'm not religious
Makes me want to pray

I'm not religious
But i feel so moved
Makes me want to pray
Pray you'll always be here

I'm not religous
But i feel such love
Makes me want to pray
I'm not religious (I'm not religious)
But I feel so moved
(but it makes want to pray)

I'm not religious (I'm not religious)
Makes me want to pray (But it makes me want to pray)
I'm not religious (makes me want to)
But I feel so moved (pray)
I'm not religious (pray)
Makes me want to pray (pray)

Nothing fails
No more fears
Nothing fails
You washed away my tears
Nothing fails
No more fears
Nothing fails

segunda-feira, julho 10, 2006

Matéria de Alexandre Ramirez comigo

Eis uma matéria que o jornalista Alexandre Ramirez publicou em sua coluna Observatório, no jornal A Folha, do Rio. Tive a oportunidade de conversar com ele sobre Necrópole e sobre meu trabalho como ilustradora. Confiram abaixo!
Se a imagem aparecer muito pequena no seu navegador, basta clicar nela que abrirá uma janela maior. E será assim até eu me entender com a lógica de funcionamento dos blogs. Eheh.


sexta-feira, julho 07, 2006

O Sabor das Primeiras: Capítulo 3

Corpos, crenças e um cartão de visitas

O tom de Renata era tranqüilo demais para um assunto tão sério, mas não chegava a ser de deboche.

– Sabe – disse ela –, não sou uma pessoa muito impressionável, mas também não sou totalmente cética. O ser humano pretende explorar e catalogar tudo o que existe dentro dos armários da ciência, mas certas coisas simplesmente... simplesmente não cabem na prateleira. Não se encaixam em categorias parecidas. Não se classificam. Deus, por exemplo. Sabemos que ele existe, mas nossa ciência não é capaz de desvendar o que Ele é. – Fez uma pausa e olhou nos olhos de Liliana com determinação, como que orgulhosa das próprias palavras e da atenção que elas haviam cativado. Como a outra nada dissesse, ela presumiu concordância e assumiu um tom de divertida confidência. – Há uns anos, tive uma vizinha que morava sozinha numa casa nos fundos da minha. Trintona. Um dia ela levou pra casa um cara diferente. Tinha uma coisa especial nos olhos, no jeito de se mexer, não sei. Um moreno de cinema, sabe? Ele... bom, ele se insinuou pra mim, mas passou a noite em claro com a Clélia, a vizinha. Pelas paredes dava pra ouvir os dois transando, bam, bam, bam! E fazia aquele calor. Eu não preguei um olho. Ainda vi o cafajeste sair de madrugada, já tinha até a chave do nosso portão. Mas depois disso ninguém mais viu a Clélia de novo. Quero dizer... – Renata engoliu em seco e sua voz baixou alguns tons – eu vi.

Liliana não fez mais do que erguer uma sobrancelha e abrir bem os olhos, indicando seu interesse. Bastava de perguntas tolas; estava ali para ouvir a história completa.

– Acabei indo pros fundos ver se ela estava lá – continuou a futura bibliotecária – porque o telefone dela não parava de tocar e ninguém atendia. Já até tinha gente ligando pra minha casa pra ver se eu sabia dela. Daí, entrei no quarto e... bom... só o que tinha sobrado dela era um corpo. Todo seco. Parecia, sei lá, que só tinha pele e ossos. Era como se tivessem tirado todo o recheio.

– Tem certeza? – perguntou Liliana.

– Como, “tem certeza”? Eu sei o que vi. Nunca vi nada parecido nem antes nem depois disso. E Deus me livre de ver. Aquilo não era normal. Nem a polícia soube explicar.

– E você acha que quem fez isso com sua vizinha foi um vampiro.

– Não, não acho.

– Não?

– Não. – Renata ajeitou de novo os óculos. Tinha agora um ar distante.

– O Paulinho me disse que você era a pessoa certa pra falar de vampiros – Liliana justificou-se.

– O Paulinho é xarope mesmo! Manda ele te levar a uma festa pra você ver. Pra mim, ele só disse que tinha uma menina procurando uma história sobrenatural. Não digo que nada disso seja sobrenatural, mas pra tudo o que não tem explicação nós damos esse nome, não é? Então, presumi que você queria escrever uma matéria ou algo assim. Só sei que não conheço nenhuma forma de um ser humano fazer aquilo com outro. A única conclusão que posso tirar é que o cara que a Clélia levou pra casa não era humano, ou não usou de meios humanos pra fazer o que fez. O que ele era já é outra história.

Liliana pensou por alguns instantes.

– Pode ter sido um vampiro – murmurou mais para si mesma. – De um tipo diferente. Algo que eu não conheça. Ainda não sei tudo. Estou procurando. Estou...

– Está obcecada, isso sim – respondeu a outra abrubtamente. – A única coisa que dá pra saber é que o cara não era normal. Só por isso você já acha que é um vampiro? Podia ser qualquer coisa, meu Deus do céu. Por acaso vampiros têm um aspirador de carne dentro da boca ou algo assim? Que eu saiba eles só bebem sangue. Isso é, se formos admitir que eles existam. E eu não admito.

– Por que não? – Liliana ergueu as mãos espalmadas, incrédula.

– Por que sim? – respondeu Renata no mesmo tom.

– Porque eu acredito. Você não acredita em Deus? Por que eu não posso acreditar em vampiros?

– Menina, você pode acreditar no que quiser – Renata respondeu tranqüilamente. – Em ET, em saci, em vampiro. Mas Deus pra mim tem uma utilidade. Que utilidade um vampiro tem pra você?

Liliana lançou-lhe um olhar arisco.

– Você não poderia entender.

– Nem quero. – Renata levantou-se sorrindo, o grosso fichário da faculdade sistematicamente amparado sob o braço. – Cada um olha pro mundo e vê o que quer – disse, e, consultando o relógio de pulso, adiantou-se de volta à sala de aula.

Liliana suspirou, levemente raivosa. Sentia-se cercada de imbecis.

Não foi muito diferente com a matadora. Sim, a matadora; vibrou ao ouvir o termo, imaginando mil possibilidades. Mas, no cartão que o rapaz da livraria lhe passou, não havia profissão ou especialidade; apenas um número telefônico e um e-mail abaixo do nome Dora Cruz.

Quem leu o conto Ponto-Final tem uma boa idéia de quem vai aparecer na semana que vem, no Capítulo 4: Telefonemas, Colhões e um Bloody Mary.

Pra quem não tiver lido ainda Ponto-Final, eu posto na semana que vem. Continuem acompanhando O Sabor das Primeiras, que está chegando à sua - acredito - inesperada conclusão!

segunda-feira, julho 03, 2006

Ela lambeu minha orelha

O conto é repetido. A ilustração, inédita.


Ela lambeu minha orelha.

Fê-lo com a delicadeza de um zéfiro nas manhãs antigas. Dríade, brincou no bosque dos meus sentidos. A ponta flexível vibrou no lóbulo e se encaixou nas cavidades retorcidas. Vai-e-vem. Labirinto úmido, labirinto inundado de sussurros, súplicas, ordens.

“Vamos?”

“Eu... vou.”

Foi meu vício quem respondeu.

Comi ambrosia nos seus lábios. Quis morrer nos seus braços – eu, a louca, ela, a camisa-de-força, meu corpo-terra-seca, ela-chuva. Choveu e eu bebi. Cavalo bravo, bufei, corcoveei – não de ódio, de alegria. De religião. Atéia, encontrei a deusa que abençoou esta descrente com a fé cega na sinceridade de seus suspiros.

Ajoelhou. Rezou.

Eu gritei num silêncio só meu.

Seu corpo, depois de amado, ficou cansado. Adormeceu e sonhou. As pupilas sob as pálpebras brincando agitadas.

A curva de seus quadris, o ângulo agudo do osso junto à carne farta. Para as nádegas existem as mãos. Para as suas, as minhas.

O vão sagrado entre as duas metades brancas feito maçã partida ao meio. Não tinha semente. Mas era de comer. Com a ponta da língua, feito mel. Chave na fechadura.

Ela gemeu, mas os olhos não se abriram.

Manhã clara me pegou na sua maciez. Desejei toda a beleza de seus dedos longilíneos, coxas entreabertas, pescoço de cisne, beleza sem penumbras, sem cortinas, sem janelas fechadas.

Eu abri a janela.

O sol foi cruel no seu rosto. Os olhos se abriram de pasmo. Espasmo. Contração. Convulsão. E era de dor. A louça que era branca trincou nas bochechas. O grito foi um guincho. Os seios, que eram torres, foram pó. O corpo, que era império, foi ruína. E ela, que era Éden, foi inferno. Anjo, caiu da graça. Condenada, queimou na estaca.

O sol fez dela uma montanha de cinza enegrecida sobre o lençol de seda púrpura.

Na ponta da minha língua, o gosto do fruto que madurou e apodreceu.

2004


 

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