terça-feira, maio 31, 2005

Hoje, apesar da loucura...

trecho de um e-mail enviado a uma amiga numa tarde estranha

Você deve me conhecer o suficiente pra saber que não sou de puxar saco, mas que também não sou de ocultar a admiração que nutro por certas - e poucas - pessoas. Por isso, se sempre prodigalizei elogios a você entre essas poucas, não foi de bobeira, e nunca vai ser. Sempre temo que admiração seja confundida com bajulação, coisa de que tenho verdadeiro pavor, mas acho que nem por isso a gente deve deixar de ser sincera.

Hoje, apesar da loucura, parei pra pensar em como são poucas as pessoas que a gente realmente considera como amigas e como é ainda menor o número de pessoas que continuam sendo-o ao longo dos anos. Algumas por não terem se tornado íntimas o suficiente e outras por terem se tornado íntimas demais. Parece que vamos perdendo pedaços ao longo do caminho. Vai doendo, vai sarando. De uma coisa tenho certeza: tudo, pra florescer, tem de ser cultivado. A vida é uma horta!

E de criancice em criancice eu vou amadurecendo, contando com a tolerância quase divina de poucos e bons regadores humanos.

Eu não acredito em sorte. Mas se acreditasse, diria que tenho de monte. Basta olhar ao meu redor. Posso escolher fazer isso e enxergar só o pesar, mas também posso escolher me alegrar com o que vejo. Hoje foi um dia abençoado porque escolhi a segunda opção. Escolhi cultivar. E procurar o que me fazia falta.

segunda-feira, maio 30, 2005

Caia na noite: Capítulo 5

Pessoas queridas,

O número de acessos de O Demo sentado em meu ombro, desde que foi criado, há menos de dois meses, me pegou desprevenida. Deixou-me surpresa, embasbacada e claro, feliz da vida. Vejo que a publicação semanal de Caia na noite teve um grande papel nisso e que vocês estão acompanhando com atenção a noveleta aborrecente.

Não encontro a eloqüência necessária para agradecer a vocês tão enfaticamente como queria e não creio que serviria preencher todo o espaço do dia de hoje com uma infinidade repetitiva de "muito obrigadas". Por isso, direi uma só vez, do fundo do coração, obrigada. Àqueles que passaram pelo blog, leram os textos e me parabenizaram sinceramente. Àqueles que passaram pelo blog, leram os textos e enviaram suas críticas, torcendo por este ou por aquele lado, pedindo melhorias. Àqueles que passaram pelo blog, leram os textos e preferiram se calar, guardando para si as impressões que tiveram, mas, ainda assim, me deram a honra de umavisita anônima. E até àqueles que passaram por aqui e nada leram, mas deixaram o Demo guardadinho em seu Histórico, considerando a idéia de voltar para uma visita mais demorada.

Aos que deixam comentários quase anônimos, peço um favor: registrem seus e-mails e/ou páginas pessoais para que eu possa retribuir a atenção. Não só o número de visitantes me espanta, como também o fato de que não conheço a metade das pessoas que tem passado por aqui! Sinal de que o Demo está indo mais longe do que o planejado. Mas nunca mais do que o desejado.

Sem mais, deixo-os com quinto capítulo de Caia na Noite.



As coisas como são


Gorducha, Cristiane continuava sentada na beira da cama, com ar perplexo, olhando fixamente para a amiga, que, indiferente ao seu espanto, sentava-se diante da cômoda com uma toalha envolvendo-lhe a cabeça, feito um turbante.

– E você topou?

– Lógico, Cris. Não posso amarelar agora, né?

– Li, por que é que você não esquece essa estória de uma vez? Você nem sabe nada sobre o cara. E se for tudo mentira? Aliás, com certeza é! Assiste mais à TV, olha quantas meninas se dão mal indo atrás desses xaropes. Vai que, Deus me livre, o sujeito resolve raptar você ou pior...

– Não fala besteira!

O olhar enfurecido de Liliana intimidou a amiga, mas não abalou suas convicções.

– Li: sabe o que tem nesta cidade? Tem seqüestrador, estuprador, assassino serial, talvez até seita demoníaca, sacrifício humano, eu sei lá! Mas não existe...

– Quem falou que não? Você? E o que você sabe? Cê não sabe bosta nenhuma. Seu problema é que você tem medo de se arriscar. Melhor não acreditar mesmo que existem coisas que você não entende, se não você não dorme à noite.

Liliana, um tanto ofegante do desafio, fitava Cristiane, sentindo-se vitoriosa.

– Sabe o que mais, Liliana... saco cheio. Parei com você!

A amiga despeitada retirou-se. Liliana não se preocupou em seguí-la; a empregada poderia abrir o portão da casa para ela sair, e precisava aprender a não questionar quem tinha a razão. Seria, aliás, a primeira a saber quando Liliana – melhor dizendo, Lilith ­– conquistasse aquilo que mais desejava. E como ficaria apavorada; iria ser divertido vê-la sujar as calças. Ela e todos os outros idiotas do colégio.

Livrou os cabelos da toalha molhada: estavam castanhos. A tinta era cara, mas a prática a tornara experiente e agora tingia os próprios fios em casa, sem problemas. O tom chocolate da embalagem assemelhava-se muito à sua cor natural, mas, na sobreposição de inúmeras tinturas que seus cabelos já haviam sofrido, estavam agora castanho-avermelhados. Teria de servir, pensou. Fabiano iria gostar. Já notara que ele preferia garotas naturais, por isso também não exageraria no rosto. Só um batom. Não: apenas um brilho discreto.

Não ponderou a razão de estar, de imediato, tão interessada em atraí-lo. Talvez porque ainda não conhecesse homens inacessíveis. Talvez porque, se ele viesse a apaixonar-se por ela, certamente lhe daria tudo o que ela pedisse. Devia ser assim o amor entre um homem e uma mulher, pensava; ao menos, era assim o amor entre ela e seus pais. Por isso mesmo detestava os meninos do colégio: não ofereciam gentilezas, não davam os presentes certos, enfim, não sabiam agradar uma garota como ela.

Na semana que vem, surpresas no centro da cidade às... Vinte e três horas.

quarta-feira, maio 25, 2005

Voe

keep flying

É libertador dizer TE AMO.

Como dizer TE ODEIO.
Pratico os dois com a freqüência religiosa de um iogue barbudo.
Dê-me tudo, vida, menos a indiferença.
Casulo não. Asas sempre.
Voe, amor.

terça-feira, maio 24, 2005

Caia na Noite: Capítulo 4

Pingando sangue


Liliana desistiu de entender. Mas podia ver, agora, por inteiro, a garota do canto. Parecia do tipo mignon; era muito pálida, tinha cabelos louríssimos, espetados; vestia roupas surradas que lhe pareceram pouco femininas e continuava a fitá-la em confessa arrogância. Liliana decidiu sustentar o olhar, desafiando-a; a garota, no entanto, não se intimidou. Ao contrário, seu sorriso abriu-se. Começou, então, a rir baixo. Gargalhava insanamente, cheia de um deleite absurdo. Um calafrio intenso sacudiu o corpo todo de Liliana. A absurda situação fê-la pensar que aquela devia ser uma dessas indigentes ensandecidas que circulavam tristemente pela cidade. Achou melhor não reagir e, instintivamente, encolheu-se no seu lugar. Não foi capaz de desviar o olhar até que a estranha deixasse de rir e Fabiano retornasse, desabando, lívido, na cadeira diante dela.

– Você... tá se sentindo bem?

– Já passou, obrigado... Droga, eu não aprendo... – enterrou o rosto nas mãos. – Sei que não devo comer... mas é tão bom! E pingando sangue... O que foi?

– Aquela menina esquisita não pára de olhar para cá.

– Dobre a língua quando falar da minha namorada!

– Como?!

– Isso mesmo, aquela “menina esquisita” é minha namorada.

– Não acredito...

– Por que não? O que é... você acha que eu não encaro? Que ela é demais para mim?

Liliana meneou a cabeça lentamente. Obviamente, era o contrário: Fabiano era o tipo de homem que, num piscar de olhos, conseguiria coisa muito melhor do que aquela doida que ria. Mas um estalo iluminou, então, o raciocínio dele.

– Espere. Você pensou que isto aqui era, tipo, um encontro? Lamento por isso, Lóló, mas tenho certeza de que não combinamos nada assim. Você me pediu outra coisa!

– É isso aí – falou ela, rispidamente. Sua decepção era óbvia. Quando ele marcara o encontro e depois lhe oferecera um jantar, ela julgara que, mais cedo ou mais tarde, seria apropriadamente cortejada. Fabiano era o seu tipo. Mas, afinal de contas, isso seria apenas um bônus, um adendo romântico; seu objetivo principal era muito diferente. Muito superior. E, já que não poderia mesmo obter benefícios extras, era melhor tratar logo de negócios.

– E então? Você vai continuar me enrolando?

– Bom, eu não sei... – Ele passou a mão pela nuca. – Isso é novo para mim. Ninguém jamais me pediu isso antes. Não posso decidir de uma hora para outra. Não sei se é certo, e não sei se você merece.

– Você me leva de um canto para outro, joga um charme barato, me xinga, come carne crua na minha frente e ainda não sabe se eu mereço?! – Liliana levantou-se, abraçando a bolsa e mordendo os lábios. – Bem, então também não sei se você merece que eu acredite na sua lorota, cara, e acho que você tá de onda comigo. Eu não sou palhaça de ninguém, tá me ouvindo? E você, você é um...

– Calma, Lulu, não se enerve. – Fabiano ergueu ambas as mãos, em rendição. – Ninguém está aqui para zombar de você. Eu não quis ser indelicado, está bem? Mas, como eu já disse, isso é muito novo, e é muito raro, então não posso sair por aí espalhando para qualquer um, entende? A pessoa deve ser especial. Eu sei que você é especial. Mas nós precisamos ter certeza. – Olhou de esguelha para a garota da outra mesa, esperando que Liliana pudesse compreender que a decisão não cabia unicamente a ele. Com isso, ela pareceu acalmar-se. Fabiano continuou: – Nunca pensamos em formular nenhum tipo de teste para julgar quem é digno. Vamos precisar de um tempo para pensar. O que você me diz de nós nos encontrarmos de novo daqui a uma semana?

Ela respirou fundo.

– No mesmo lugar?

– Não, vamos mudar de ares. Que tal na frente do Teatro Municipal... na próxima quarta, às 23h?

Ela arregalou os olhos.

– Que foi, tem medo?

– É claro que não!

– Então, tá combinado.


Na próxima semana, entenda... As coisas como são.

segunda-feira, maio 23, 2005

666

Hoje, o Demo marca 666 visitas à sua alcova. Festejemos...


666 beijos que te dei na boca quando me confessaste teu amor.

666 versos que soltei feito o esporro de um amante acolhido no regaço fundo da amada, fundo da madrugada, alvorada, alvoroço na alcova.

666 cartas de amor te mandei, quebra-cabeças de namorado, para que montasses as peças que te mostrariam o tamanho do meu coração pulsante de ti, carente de ti, vivendo de ti e nunca de outra.

666 dias no paraíso dos teus braços, pecado dos abraços, sonho dos mal-amados.

666 juras. Nenhuma cumprida.

666 maldições te lancei quando ouvi que tinhas outro.

666 planos contra ti eu forjei no fogo do meu ódio, remédio dos traídos; descartados, um a um, por serem cruéis demais para quem ainda te amava e suaves demais para quem me traíra.

666 meios de te matar.

1 única bala entre teus olhos verdes. Sem dor. Sem clemência. Só... aniquilação.

666 pedaços teus espalhei pelo mundo.

1 flor maldita nasceu de cada um deles para lembrar-me de ti.

666 amantes terei até saber esquecer que tu me amaste.

domingo, maio 22, 2005

Versos de 5 minutos após a meia-noite

experimento poético sem pontuação

você tão adulto mas tão ingênuo
eu tão criança e já tão amarga
eu ranzinza sou bebê sou velha
você sábio é garoto é ancião

você doce na minha boca ardente
eu sal na sua ferida exposta à força
eu gato que já espreita a passarada
você ovo que cai choco do ninho

eu tão séria no meio da comédia
você a rir no meio do dilúvio
eu boca suja língua chula mente poluída
você olhos nos olhos tet-a-tet coração leve

eu enchente ciclone incêndio terremoto vulcão
você olho do furacão sempre gracioso sob pressão
o mundo desmorona
você sorri

(10.05.2005)

terça-feira, maio 17, 2005

Caia na Noite - Capítulo 3

Carne crua e artifícios


Subiram em direção à Avenida Paulista. Lá, viraram à direta e chegaram à Rua da Consolação. Fabiano seguia em silêncio e Liliana o imitava. Gostava do mistério.

Entraram num restaurante de esquina, modesto e acolhedor. O rapaz levou-a pela mão ao segundo andar, mais reservado.

– Tô morto de fome – declarou, por detrás do cardápio. – O que acha de pedirmos picanha?

A garota assentiu e ele fez sinal para um garçom.

– Picanha para duas pessoas, por favor.

– Ao ponto ou bem-passada?

– Ao ponto – respondeu Liliana.

– Mal-passada – emendou Fabiano.

O garçom sorriu e retirou-se. Ela se ergueu com leveza.

– Vou ao toilette...

– Será que podia aproveitar para tirar essas lentes dos seus olhos? Sabe... é que elas me dão aflição...

Lilian ferveu de ódio por dentro, mas nada disse. Estava disposta a contentar seu estranho colega; o sucesso de sua empreitada dependia da boa-vontade dele. Com um pouco de paciência, conseguiria o que viera buscar.

Mal erguera a mão para a maçaneta da porta do banheiro, esta abriu-se bruscamente pelo lado de dentro. Uma garota saiu e atirou-lhe um olhar torto, mas Liliana não se preocupou com isso. Tinha de ser tolerante com as outras. Não eram tão bonitas: não tinham culpa de invejá-la.

Quando retornou à mesa, já sem as lentes, olhou fixamente para Fabiano, ansiando por um elogio.

– Castanhos – murmurou ele. – Seus olhos são castanhos. Tão comuns. E dá pra ver que são amendoados, não oblíquos, como você tenta fazer parecer.

O sorriso que ensaiava no rosto dela caiu morto.

– Isso te ofende? Desculpa! – exclamou ele, falsamente compadecido. – Sabe, não há nada de errado em ser comum. A superfície não importa, é só uma casca. No fundo, todos são únicos, mas é claro que você já sabe disso.

Ela não respondeu. Olhou por sobre o ombro de Fabiano e viu que a garota do banheiro sentara-se numa mesa no fundo, de onde podia olhar – e de fato olhava – diretamente para ela. O rapaz chamou-lhe de novo a atenção:

– Não fique zangada com a minha pergunta, mas por que seu cabelo é fúcsia?

– O quê?

– Fúcsia! É a cor do seu cabelo. Mas você já sabia disso também, certo? A sua cor natural deve ser... castanho... acinzentado! Acertei?

– Que importância isso tem?

– Eu é que pergunto, foi você quem tingiu... E deixe-me adivinhar: esse pó todo na sua cara é porque você tem sardas. Ama sua pele branquíssima, que contrasta com suas roupas pretas, mas odeia as sardas nas suas bochechas, por isso afoga-se em maquiagem. Sardas nos deixam com cara de crianças levadas. As pessoas não nos levam a sério quando temos sardas, não é mesmo? Mas eu gosto...

Ao mesmo tempo em que procurava uma boa resposta para os comentários indiscretos que ouvia, Liliana encarou instintivamente a garota na mesa dos fundos. Ela tinha tal quantidade de sardas que parecia estar com o rosto todo enferrujado. Esta, sim, poderia usar um pouco de maquiagem. Não desviava o olhar de Fabiano e Liliana, e começara, agora, a sorrir.

– Não precisa ficar constrangida, Lilí – continuou o rapaz, agarrando uma de suas mãos com a sua, dura e gelada. – Eu sei que você ainda rói as unhas, por isso usa estas de porcelana. Sabe, eu li, uma vez, que quem come as unhas tem desejos secretos de autodestruição. É como se a pessoa quisesse devorar a si mesma, começando pelas extremidades, que são mais vulneráveis. Mas eu não preciso olhar para as suas unhas para saber que você quer se autodestruir; se não quisesse, não estaria aqui, comigo! Devorar a si mesma, aniquilar-se por completo! Putz, será assim tão horrível ser você?

Liliana articulou uma interjeição indefinida, siderada. Não podia acreditar que aquele garoto, antes tão gentil, estivesse a insultá-la com tamanha desfaçatez. Quem ele pensava que era?

– Vamos, Lelé – continuou ele. – Eu sei que você está usando sutiã com enchimento!

– Vá se danar! Seu filho da puta, cale a boca! Você...

Na mesma hora, o garçom se aproximou trazendo o jantar e ela teve de recobrar sua compostura. Respirou fundo. Dois grandes e suculentos pedaços de picanha foram colocados em seus pratos.

– Liliana: você é uma menina linda – murmurou Fabiano. – Linda mesmo. Não precisa de todos esses artifícios!

Por baixo de toda a pintura, ela corou; não sabia, agora, se devia bater nele ou beijá-lo. Fabiano trouxera-a da expectativa ao ultrage e então ao acanhamento; parecia ter o dom de manipular suas emoções. Emudecida, ela cortou a carne; estava vermelha por dentro. Fez sinal para o garçom.

– Tá totalmente crua. Passe de novo... – e olhou para o rapaz, que manejava seus talheres com avidez suína, levando grandes pedaços de carne à boca.

– Isto aqui é muito gostoso! – falou, entre uma garfada e outra.

– Mas não dá para comer essa coisa! – balbuciou a garota. – Está pingando sangue!

A cada vez que o garfo espetava a picanha, esta vertia generosa quantidade do líquido vermelho, que ia acumular-se nos cantos do prato.

– Tá com nojo? Mau começo, menina, mau começo...

Em poucos minutos, ele consumira todo o conteúdo do prato; quando o garçom voltou com o jantar de Liliana, sua forme já se perdera. Não tocou mais sequer nos talheres.

– Isso pode te deixar doente, sabia?

– É, eu sei. Já, já, vai acontecer.

O que vai acontecer?

A resposta veio diretamente das entranhas do rapaz, que grunhiram horrivelmente. Ele se contorceu.

– Minha vez – ganiu, e correu para o sanitário masculino com as mãos sobre o estômago.

Na semana que vem... uma nova personagem sacode a trama. Capítulo 3: Pingando sangue!

sexta-feira, maio 13, 2005

A sociedade dos proscritos

quem nunca se lambuzou no meio-amargo?

Éramos um grupinho inédito. Isso porque não éramos bem um grupo. Éramos mais como hienas expulsas de um bando ou elefantes velhos que voluntariamente deixam a manada para morrer sem incômodo.

O Leônidas era gay. Não sabia, o pobre. Nada contra ser gay. Ruim era negar o que todos viam, que saltava aos olhos mais distraídos, por mais que ele jurasse gostar de uma menina da quinta D. Quinta série D. Ele estava na classe C, fraquinha. Eu, na A, mais adiantada, rezava a lenda e contradiziam-na os meus companheiros de aula.

Mas o Leônidas, pobre besta. Seus tremeliques, sua indecisão. Só nosso grupo duvidoso o abrigaria. Vagamente gorducho, declaradamente ignorante, só o salvavam o riso fácil e os olhos de mar caribenho. Quem já foi a Cuba sabe do que falo. Eu que não fui sei. Azul-esverdeado cristalino.

A Jaci, aos doze, punha medo aos moleques mais robustos da área. Alta, braços que valiam por pernas e pernas que valiam por toras. Para ela, eu, de cavalinho, era como a mochila às costas. Ia no lombo dela pela escola toda, Master e Blaster, ninguém se lembra do Mad Max, não? Cabelinho sempre preso na ilusão de domar madeixas crespas, da mesma cor da pele, um marrom-cocada multi-étnico. O vocabulário de criança desdizia todo aquele tamanho. E a saia? Todo dia. Evangélica, tocava saxofone na igreja eu-sei-lá-qual e vinha para o intervalo falando palavrão e rindo com as partituras de diversas ave-marias sob o braço.

Era uma amigona por diversos ângulos, a Jaci. Do jeito que sabia. Enquanto precisávamos.

Eu? Pequena, interrompida a meio caminho de mulher, com o recato de uma freira e o temperamento de um rinoceronte. Já não era criança, odiava ser adolescente e morria de medo de ser adulta. Algo dentro de mim esperneava pedindo mais tempo na infância, barata envenenada quando a gente olha e ri e pára de girar que eu quero descer, mundo cão! E ficava lá sentada entre os dois. Onde mais ficaria? Não tenho vocação pra loba solitária. Nasci pra viver em matilha. De vira-latas, que seja.

Não éramos bonitos pra fazer parte dos grupos das patys e seus paqueras. Não éramos descolados pra ser os grandes palhaços da turma. Não éramos tão fracos que apanhássemos dos valentões.Não éramos geniais pra ser os CDFs da vez. Nem éramos rebeldes para cabular aula e fumar no banheiro. Éramos só nós, inclassificáveis, anônimos.

Por isso nós nos juntávamos no intervalo. Dividíamos lanches, conversávamos amenidades e até mesmo nos divertíamos. Não tínhamos os telefones uns dos outros, não sabíamos sequer fazer visitas mútuas, que coisa tão sem jeito ser como éramos... Grupo, só na hora da caça, pra passar ao largo dos leões.

O ser humano quer pertencer. Se não a outro ser humano, ao menos a uma categoria. Porque grupo é identidade. Grupo é proteção. Sobrevivência. Estar fora do bando é ser peso morto, elefante velho, hiena manca. Estar fora é ser deixado no caminho, para trás, para o cafezinho com biscoitos do predador. Então nós nos aglomerávamos como a natureza quer e o medo exige. Na selva de pedras ginasial, sentados no mesmo banco de cimento.

Tinha de ser. Pra um dia acabar.

Não sei bem quando foi. O bando se extinguiu devagar, sem traumas, complexos, amplexos. Nem despedidas. O banco de cimento ficou frio, as bundas se cansaram do mesmo lugar, as bocas, do mesmo interminável carrossel de assuntos frouxos. Não foi alegre nem triste. Só foi. Já era.

Onde será que anda a Jaci? Mora na rua do meu ex-noivo, é, eu fui noiva, o cara, também coleguinha de escola, desmanchamos... mas ela, a Jaci, ela casou? Largou o sax? Topei com ela numa avenida improvável muitos anos depois daquela época e bem antes de hoje. Tão automático não trocarmos telefones. Que bom te ver, alegria genuína mas sem talento pra se prolongar.

O Leônidas é coisa que nunca mais vi. Fingiria que não vi, se visse. Ver pra quê? Perguntar da vida, que vida o quê, santa hipocrisia, meus amigos. Crueldade o meu rabo. Ou o dele. Felicidade de dentro pra fora, ou de for para dentro, na direção em que quiser, certo? Certo, ainda fico nervosa de lembrar da besta zombando dos meus hobbies. Menininha que era, menininha que sou.

Fui na cola dos outros, depois descolei, fiquei descolada, não de todo e nunca mesmo, pra dizer a verdade. Fachada. Aprendemos. Contamos piadas e botecos, furtamos dos outros beijo e paciência, pisamos no orgulho e na jaca, rimos da cara do cara e do couro curtido, escorregamos no quiabo e no sotaque, engolimos desaforos e as gostosas da turma, pois sempre tem uma gostosa onde tem turma e a gente engole ou se manda, e se não houver a gostosa, o palhaço e o líder, não é turma, é o bando de hienas mancas, o cantinho dos enjeitados, a sociedade dos proscritos.

Não sonho voltar, não sonho poder diferenciar o que eu fui daquilo que eu poderia ter sido, não sonho, de fato, com o que foi, mas com o que vai ser. E termina assim. Não tem fim porque não é história. Fim é onde eu ponho o ponto e não escrevo mais nada depois. Acaba o meu dia e eu não acabo, minha vida não acaba. Meu fim diário é o fechar de olhos antes do primeiro sonho da noite e amanhã tem mais sob os meus protestos.

Eu gosto dos pesadelos de garras e foices. Só não gosto de quando sonho com o banco de cimento. Porque eu me sento lá sozinha, anônima, e espero o trem da madrugada, olhando pro pátio vazio e pensando nos tiros em Columbine e nas metralhadoras dentro do cinema, tem xarope que quer ser médico, e pisco quando bum, bum, bum, alguém cai de novo pra sempre e desaparece no fundo escuro e desavergonhado do meu coração proscrito.

Soy un perdedor

I'm a loser baby, so why don't you kill me?*

*Beck

terça-feira, maio 10, 2005

Quem não me quiser

foi há 4 anos


Quem não me quiser, que não me busque;

Quem me desejar, que me mereça;

Quem me quer contente, me mantenha.


Quem amar meu brilho, não me ofusque;

Quem quer que eu me lembre, não se esqueça;

Quem não me prezar, que não me tenha.


segunda-feira, maio 09, 2005

Caia na Noite - Capítulo 2

Formas de morrer


– Desistindo tão cedo?

A voz de Fabiano acariciou seus ouvidos e fê-la sorrir quando se voltou para ele. Sem dúvida, era o mesmo Fabiano do fim de semana, embora a luz amarela das lâmpadas roubasse um pouco do vigor de seu rosto.

– Pensei que você ia me dar o cano.

– Eu disse que estaria aqui, não disse?

Sim. Antes de deixá-la sozinha no balcão da danceteria, ele escrevera um endereço num guardanapo e o pusera nas mãos da garota, dizendo: Se você quer mesmo isso, vá a esse lugar na quarta-feira, às 21:30. Já estarei lá quando você chegar. Mas não conte a ninguém, porque eu vou saber se você fizer isso.

– Vamos nos sentar – sugeriu ele. – Toma um chope?

Agora, ela podia observar claramente seus grandes olhos de um azul profundo, marítimo, e o brilho dourado dos cabelos castanhos, muito curtos. De jeans e uma simples camiseta. não parecia tão altivo e enigmático quanto no último sábado, mas, sem dúvida, era bonito. Ele a vira com as amigas e aparentemente interessara-se pela conversa. Ouvira-a falando sobre quem queria ser, o que queria ser. Apresentara-se, então, sem qualquer cerimônia, dera-lhe o endereço e saíra andando, sem mais.

Ela tirou da bolsa um maço de cigarros, não tanto porque estivesse com ganas de fumar, mas principalmente para exibir seu novo isqueiro de aço inoxidável.

– Quantos anos você tem, menina?

– Fiz dezoito no mês passado! – respondeu ela, um pouco afoita, em meio a uma tragada.

Ele sorriu, maroto.

– Se bem que eu podia te ensinar uma ou duas formas mais rápidas de morrer...

A censura dele a desconcertou; procurou lançar-lhe um olhar insinuante para disfarçar seu constrangimento, enquanto apagava o cigarro ainda inteiro no cinzeiro sobre a mesa. Tinha vontade de agradá-lo, muito mais do que era capaz de admitir.

– Bom, menina, não sei seu nome...

– Meu nome é Liliana, mas minhas amigas me chamam de Lilith.

– Uau! Lilith, mãe de todos os demônios e seres malignos da escuridão? – zombou ele, gesticulando afetadamente com as mãos. – Nossa, você conseguiria ser mais óbvia do que isso?

– Escuta aqui – redargüiu ela, impaciente –, que espécie de lugar é esse? Por que aqui?

– Queria o quê, um cemitério?

– Não seria ruim.

– Não quero saber de gente morta. Aqui é, tipo, uma cooperativa. Tem o bar, o sebo ali na frente... No andar de cima, tem o cybercafé e a galeria. É ótimo, todo mundo se conhece. Você não gostou?

– Não, é bem legal – mentiu ela, diante do olhar desapontado de Fabiano. – Gostei desta “cooperativa”... sou uma boêmia, como você.

– No seu caso, é uma opção. No meu, um modo de vida. É isto ou não ter convívio social, já que durmo o dia todo. Não tenho muita alternativa a não ser cair na noite. Esse povo aqui curte a vida até a madrugada, mesmo tendo de trabalhar na manhã seguinte. Mas o sebo é meu, uma menina fica por aqui de dia pra mim e eu venho à noite.

– Você trabalha aqui?

– Também tenho de ganhar a vida, né? Ou você acha que eu entro nas baladas na faixa? E eu pago conta de luz, de água...

Liliana emudeceu.

– Você esperava... um certo refinamento, não? – Fabiano estreitou os olhos em busca da palavra certa. – Um certo glamour? Sou um cara comum sobrevivendo nesta metrópole caótica, garota. Sem frescura. Fala uma coisa: você tem religião?

– Eu... fui batizada, minha mãe é católica.

– Então, seja também. Ou vire evangélica. Ou budista, harekrishna, tanto faz. Mas acredite em algo que lhe dê conforto de verdade e lhe proporcione algum crescimento espiritual. Ou acredite que não há um ser maior e que a gente tem de cuidar de si mesmo sozinho, como puder. Mas não creia em deuses da moda. Nem em estereótipos da mídia, vampiros de Hollywood e outras coisas que você idealiza e não compreende.

Liliana bateu com os punhos sobre a mesa.

– Pensei que você quisesse me ajudar!

– Bom, estou tentando.

– Então, por que quer que eu mude de idéia?

– Só estou sendo franco. Você, sei lá, fantasia demais. Está comprando uma faca de dois gumes. Lembra aquele ditado, “cuidado com o que você deseja, pois pode...”

– Vir aqui foi perda de tempo.

Ela se ergueu bruscamente, a bolsa nas mãos, os lábios franzidos. Fabiano não esboçou reação.

– Você nunca vai ter certeza se for embora agora – disse. – Tá com fome?

– Quê?

– Tá com fome? Vem, eu te levo pra jantar.

Ofereceu-lhe o braço, como um perfeito cavalheiro, e ela o tomou. A sugestão lhe apetecia. Agora, sim, ele estava sendo cortês, como ela esperava.

Enquanto saíam, Fabiano cumprimentou e acenou para diversas pessoas em cada um dos recintos. Liliana arriscou sorrir para os desconhecidos, mas não teve retribuição.


Na semana que vem: Carne crua e artifícios!

terça-feira, maio 03, 2005

And where does the offspring go from here?

cardápio literário

Talvez eu nunca venha a entender se este é o título ou o slogan do site do Pedro, mais conhecido interneticamente como Leão, ou Eternal Child, Edgewalker Lion.

Pois o leão que caminha à beira do precipício tem seu espaço belo, minimalista e bem recheado no http://eternalchild.blogspot.com/. De forma por vezes compulsiva passo por lá pra ver o que ele soltou dessa vez. Uma crítica de cinema? Um episódio muito pessoal? Algo realmente alheio à minha vida mas estranhamente ligado à ela?

E qual de nós não é uma eterna criança, Pedro? Qual de nós não carrega em si o estigma dos pecados dos pais?

Eu passo por lá. Passem também, queridos.

Caia na Noite - Capítulo 1

Hoje, inicia-se a publicação de "Caia na noite", novela em 10 capítulos semanais.
Aos que têm ojeriza à palavra "novela", um alívio: não tem nada a ver com as produções da TV brasileira (ou mexicana...). Novela é originalmente o nome de um formato literário maior do que o conto e menor do que o romance, dividido em capítulos ou episódios. Daí as citadas atrações televisivas, tão amadas e odiadas, serem, na verdade, telenovelas, ou novelas para a TV, sucessoras das radionovelas dos tempos áureos do rádio.
Estejam avisados: "Caia na noite" não pretende criticar nenhuma tribo urbana ou estilo de vida individual ou grupal. É antes um suspense urbano e uma alfinetada na alienação geral. E, sim: é uma história de VAMPIROS.
Escrita há mais de um ano, tem um pouco do meu estilo atual e NÃO tem um pouco do meu estilo atual, coisas que eu mudaria, coisas que deixaria como estão. Diverti-me escrevendo-a. Espero que se divirtam lendo-a.
Fiquem agora com o primeiro capítulo. Não deixem de enviar suas críticas, comentários, avacalhações ou mesmo elogios. É pra isso que o link Comments serve.

Capítulo 1: O obscuro 1387


Ela tomou o pincel e pôs-se a delinear meticulosamente as bordas das pálpebras. Teve o cuidado de esticar os cantos com o traço para conferir a si mesma um ar ligeiramente oriental. Depois, aplicou nos olhos as lentes de contato especiais. As pupilas, agora, pareciam-se com dois pequeninos pontos negros, rodeados pelas íris brancas, sobrenaturais.

Já arrumara os cabelos tingidos de vermelho-rosado, usando gel e um pente finíssimo de remover lêndeas. Isso prevenia quaisquer ondulações. Os fios agora estavam perfeitamente divididos ao meio e absolutamente retos até as omoplatas.

Deu uma última olhada em si mesma. A base importada casava bem com sua pele de leite, que evitava o sol a qualquer custo. O lápis marrom realçava os arcos de suas sobrancelhas e um batom carmim enganava a miudez dos lábios. A saia preta de pregas exibia coxas tenras e os coturnos de salto lhe emprestavam sete centímetros de elegância. Mas ainda faltava alguma coisa.

Na gaveta da cômoda, escolheu, entre inúmeras gargantilhas, uma com o pingente em forma de ankh, a cruz egípcia. Ajeitou com as mãos o decote da blusa junto dos seios. Apanhou a bolsa de vinil com a figura de um morcego costurada – havia custado 3 ou 4 meses de sua mesada, mas valera a pena – e, agora, sim, estava pronta.

Tomou um ônibus até a estação de metrô mais próxima. Fez a baldeação na Sé e usou a linha norte-sul até Ana Rosa, de onde seguiu para Consolação. Gostava da Avenida Paulista. Mesmo nas noites dos dias úteis, a grande via e suas cercanias eram agitadas e podia-se ver todo tipo de gente, todo tipo de tribos urbanas, e criaturas singulares como ela podiam passar despercebidas.

Desceu a Rua Augusta com certa dificuldade, enfrentando uma turba vagamente intelectual que ia no sentido contrário. Noite após noite, ininterruptamente, tudo acontecia ali, nos recônditos inexplorados, livrarias e sebos, escritórios e apartamentos, casas noturnas e bares, butiques e brechós, bingos e botecos, saunas e prostíbulos.

Ela parou diante do número 1389. Eram 20:20. Olhou para o número anterior: 1385. Tirou o papel amassado da bolsa, no qual uma letra quase infantil anotara: Augusta 1387. Estava na calçada certa. Onde estava o 1387?

A pesada porta de ferro à sua frente devia ser uma entrada anexa de uma das duas casas, já que não tinha qualquer placa informativa. Ela podia ouvir os sons que passavam pela fresta. Empurrou-a com uma mão tímida. Um longo e estreito corredor de paredes descascadas apareceu; levava a cômodos diferentes. Vozes festivas vinham do fundo. No piso de tábuas, pintado aparentemente há muito tempo com um letreiro manual, estava o número 1387.

Ela entrou. O chão resmungou alto sob seus passos. À direita, havia um recinto aparentemente vazio, ainda que um diálogo casual surgisse do seu interior e ela pudesse ver silhuetas projetadas nas paredes através de uma porta entreaberta. Havia uma escada apertada, sob a qual duas garotas agachadas sussurravam. Tinham um aspecto de hippies fora de época e não pareceram notá-la. Ela subiu as escadas.

No andar de cima, encontrou três recintos de piso desnivelado. Dois degraus desciam até uma sala comprida, na qual computadores de última geração contrastavam com prateleiras empoeiradas, lotadas de objetos de antiquário. Não havia ninguém lá. A porta do segundo cômodo, com lascas de verniz faltando e completamente rabiscada com tinta de caneta comum e giz de cera, estava trancada com um cadeado. A terceira sala, cujas grandes janelas davam para a rua, devia ficar sobre a casa 1385, uma construção térrea. O silêncio era completo. Grandes telas pendiam das paredes. Não era uma conhecedora de artes plásticas, mas os quadros lhe pareceram abstratos e desinteressantes. Desceu.

No corredor, mais adiante, viu uma nova sala, bastante apertada, onde um velho de boina e óculos falava sozinho num idioma que ela não identificou, procurando qualquer coisa nas altas pilhas de revistas em quadrinhos usadas que o rodeavam de todos os lados. Um rapaz folheava velhos gibis preto-e-brancos.

O próximo recinto era todo amarelo e igualmente abarrotado de livros, porém mais amplo, e a parede da frente abria-se por completo para o corredor. Pequenas mesas redondas abrigavam copos vazios e a conversa animada de grupos que se sentavam à sua volta. No fundo, um homem discutia com uma mulher muito maquiada que lia cartas de tarô. A única fonte de luz era um abajur que lhe pareceu descomunalmente grande e fora de moda, como a mobília de sua avó, que era a mesma desde os anos 70. Boa parte dos presentes encarou-a como se ela fosse uma turista, voltando a ignorá-la em seguida.

Havia ainda um último ambiente no fim do corredor, que acabava numa pequena escada de tijolos, sem corrimão, num ponto em que as paredes estavam quebradas e o terreno se abria num jardim decadente. O chão era de concreto rachado, entremeado de toda sorte de ervas daninhas, e junto aos muros crescia um tipo de trepadeira de grandes folhas, que ela decidiu serem videiras, porque lhe soou mais romântico. Um quartinho nos fundos, do qual um homem entrava e saía repetidamente, sugeria uma pequena cozinha ou adega. Mais boêmios em torno de mesas muito próximas umas das outras.

Sentiu-se desolada. Aquele lugar não tinha nada a ver com ela, e aquela gente, menos ainda. Garotas de jeans gasto e rapazes de cabelo desarrumado. Embora fossem jovens, bebessem, fumassem e conversassem alegremente, ela se sentia uma intrusa numa aldeia inimiga. E, o pior, ele não estava lá. Eram 20:40. Será que tinha errado de dia? Não, o encontro fora marcado para a quarta-feira, com toda a certeza. Ele não viria, apostou.

Caminhou de volta à escada e, quando se preparava para subí-la, alguém a tocou no ombro.

Querem saber o que vem depois? Passem por aqui na semana que vem, sem falta!


 

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